No cinema
Luís Pimentel
- O que é isto?
- Um passaporte. Ele está dizendo para ela que vai embora, para sempre.
- Não disfarça.
- Verdade. Parece que ele não gosta mais dela.
- Não estou falando do filme, seu sonso. Estou perguntado o que é isto aqui, entre as minhas pernas.
- Minha mão, ora.
- Você não pediu permissão.
- Não sabia que precisava.
- Saiba que não sou dessas.
- Já sei. Também não gosto dessas.
- Não está me agradando.
- Tudo bem. Podemos sair e procurar outro cinema. Tem um filme legal no Estação Botafogo.
- Não se faça de bobo.
- Eu te amo.
- Que ridículo!
- Eu?
- Não. O sujeito do filme. Olha que bigodinho mais cafona.
- Também acho.
- Eu vou gritar.
- Não faça isso, vamos evitar o escândalo.
- Então, pára.
- Não consigo.
- Por quê?
- Minha mão está presa entre as suas pernas.
- Tira a mão daí!
- Então abre as pernas.
- Nem morta. Se eu fizer isso, você se aproveita.
- Criou-se o impasse.
- Como assim?
- No filme. Ele não sabe se pega o trem ou se vai jantar com ela.
- Precisa aparar essa unha.
- Farei isso hoje mesmo.
- Então vou abrir um pouquinho. Mas só um pouquinho.
- Você é uma boa menina.
- E você é um cafajeste.
- Fala baixo. Lá vem o lanterninha.
- Ele vai ver sua mão. Esconde.
- Onde?
- Aqui.
(Conto extraído do livro: Um cometa cravado em tua coxa - Editora Record)
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Beijoss